quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Qual o sentido de se ter uma vida bestializada, cheia de excessos?

Hoje em dia é muito comum festas e baladas onde pessoas de todas as faixas etárias, classes sociais, cores e crenças se juntam para “curtir” um evento, um estilo musical, dança etc, onde as pessoas vão em bando, no caminho já param para beber, um aquecimento, chegam bêbados e/ou drogados, no local consomem mais bebidas ou drogas, usam tudo em excesso, buscam sexo desmesuradamente, prazeres, alívios e alegrias momentâneas. O ‘momento’ passou a se tornar o foco de tudo: “curtir o momento”. Não importando se passará algum tipo de vergonha ou constrangimento, se eventualmente for levado a um hospital em coma, desmaiado, machucado etc. Não há uma busca pelo futuro, pensar no futuro, busca-lo, querer pra si o melhor e ir atrás de um sonho. Isto tudo é careta, brega, cafona, fora de moda, tosco, ridículo... Aquele que vive à margem desse sentimento momentâneo, aquele que planeja, busca, que quer um futuro e vive pela sua realização, este homem saiu de moda. Talvez seja pelo fato do Mundo estar cada vez mais violento, sempre termos novidades, sempre mudando, o que faz com que as pessoas tenham certa propensão a não se sentirem seguras e não pensarem em nada. Zombam daqueles que não sigam estas ideias. Não pensam, não leem, são animais de duas patas que tem uma capacidade [atrofiada] de pensar. O Estado inibe o povo de pensar, de aprender, ele dá direitos a isso, porém, não é importante uma sociedade pensante, contra o Estado, contra todos os escândalos políticos, contra roubos, impostos abusivos, contra todo lixo que nos é jogado e calados comemos a melhor merda do governo. E parece que gostamos disso.
Estranho pensar em como a história sempre pende entre opostos, uma sociedade, um país, um povo, um Mundo inteiro que deveria progredir cada dia mais regride, rumando ‘apocalipticamente’ para o caos total, todas as tentativas de salvar a [alta] cultura (a verdadeira cultura: aquilo que nos eleva em espírito e força), a racionalidade, as humanidades foram frustradas, descartadas. Na Grécia Antiga idiota era aquele que se mantinha afastado da vida pública, a política era algo para os cidadãos, hoje o ser-cidadão tornou-se o idiota. No Renascimento os mecenas investiam alto em grandes artistas, grandes obras foram produzidas, nesse período mais do que em qualquer outro da história a cultura foi imensamente enriquecida e difundida. Hoje nossos mecenas gastam fortunas com prazeres baratos, com distrações, com cultura de massa, num grande lixo que nos distrai, nos alivia, nos fazem dar risada e seguimos nossas vidas acreditando que somos felizes, que estamos vivendo ao máximo consumindo todo lixo cultural e todas as drogas, lícitas e ilícitas, que os governos e os mecenas, que ora ou outra se mesclam.
A sociedade está organizada de tal modo que não há espaço para grandes pensadores, grandes obras, tudo é distração, tudo tem que ser momentâneo, não pode requerer trabalho, a rotina diária do homem o deixou cansado, sorumbático, melancólico, ele desaprendeu a viver, a sentir, a instruir-se, a cultivar-se. Está inserido numa sociedade desmesuradamente hedonista, momentânea, perdeu-se o futuro, a esperança, tudo tornou-se instantâneo, digital, fraco, falso. O ser humano só evolui através da luta, do aprendizado, da dureza de espírito, da dúvida, da busca, da racionalidade, da cultura, só crescemos quando algo acrescenta algo a nós, quando nós torna mais preparados, seguros, firmes, quando deixamos de ser instantâneos e ecoamos através do tempo e espaço, quando aquela sensação, aquele prazer não acaba com a ação, mas permanece após seu término e não se altera.

“O homem é algo que deve ser superado. O que fizestes para superá-lo? (...) Podes dar a ti mesmo o teu mal e o teu bem e suspender a tua vontade por cima de ti como uma lei? Podes ser o teu próprio juiz e vingador da tua lei?" (Nietzsche, F. Assim Falava Zaratustra (trad. Mario da Silva), Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, pgs. 36; 89)

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