domingo, 13 de fevereiro de 2011

Hino Nacional Brasileiro

Ontem, 5/2/2011, na formatura do técnico da minha irmã depois de cantaram uma música que deveria ser do Rick Martin e outra do Elton John, teve o discurso de ‘início’ da formatura, depois tocou-se o hino nacional, enquanto o hino era executado e cantávamos me veio algumas dúvidas na cabeça (só poderiam me vir nela mesmo):
• Será que as pessoas entendem o hino nacional?
• Será que ele nos representa?
• Quem o escreveu?
• Será que o hino integra todo o país?
• Será que as pessoas o conhecem?
• Sabem das circunstâncias das quais ele foi composto e do que fala?
• Será que sabem da história do nosso pais?
• Por que os países têm um hino nacional, o que isto representa?
Isto me despertou certa curiosidade e então fui recorrer ao sabido Google para sanar algumas dúvidas, logo de cara já encontrei algo que boa parte dos brasileiros não devem saber, sempre soube que não poderíamos aplaudir após o hino, mas nunca soube porque, eis que me aparece a Lei nº 5.700, de 1 de setembro de 1971, que “Dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos Nacionais, e dá outras providências”. Algo interessante!
De acordo com o Capítulo V da Lei 5.700 (01/09/1971), que trata dos símbolos nacionais, durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio. Civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações. Além disso, é vedada qualquer outra forma de saudação (gestual ou vocal como, por exemplo, aplausos, gritos de ordem ou manifestações ostensivas do gênero, sendo estas desrespeitosas ou não).
Segundo a Seção II da mesma lei, execuções simplesmente instrumentais devem ser tocadas sem repetição e execuções vocais devem sempre apresentar as duas partes do poema cantadas em uníssono. Portanto, em caso de execução instrumental prevista no cerimonial, não se deve acompanhar a execução cantando, deve-se manter, conforme descrito acima, silêncio.
E continuando a lei entramos, claro, as penalidades, olha que interessante:
Art. 35 - A violação de qualquer disposição desta Lei, excluídos os casos previstos no art. 44 do Decreto-lei nº 898, de 29 de setembro de 1969, é considerada contravenção, sujeito o infrator à pena de multa de uma a quatro vezes o maior valor de referência vigente no País, elevada ao dobro nos casos de reincidência (Redação dada pela Lei nº 6.913, de 1981). Seja lá que valor for este deve ser alto...
Art. 36 - O processo das infrações a que alude o artigo anterior obedecerá ao rito previsto para as contravenções penais em geral. (Redação dada pela Lei nº 6.913, de 1981).
Eu não entendo muito de lei, mas imagina, um belo dia, você sai da delegacia, seu pai vai te buscar preocupado e etc, e pergunta qual foi a infração, dai você diz: “Ah, cantei o hino nacional em continência” ou "aplaudi quando acabei de cantar o hino", por exemplo. Ridículo. É bonito a regulamentação etc, algumas disposições, mas, ao meu ver algumas são inúteis.
Sem contar que onde você aprendeu o que está regulamentado nesta lei que:
Art. 39. É obrigatório o ensino do desenho e do significado da Bandeira Nacional, bem como do canto e da interpretação da letra do Hino Nacional em todos os estabelecimentos de ensino, públicos ou particulares, do primeiro e segundo graus.
Além do mais, fugindo um pouco do hino, mas ainda em símbolos nacionais imagina. Você ser autuado por ter uma bandeira suja:
Art. 31. São consideradas manifestações de desrespeito à Bandeira Nacional, e portanto proibidas:
I - Apresentá-la em mau estado de conservação.
Ou ainda:
II - Mudar-lhe a forma, as côres, as proporções, o dístico ou acrescentar-lhe outras inscrições;
Embora quando o Sepultura colocou o símbolo da banda na bandeira houve algumas retaliações, o que ao meu ver foi uma forma de demonstrar o amor ao país etc, foi visto como um desrespeito à pátria. Estranho. O que a bandeira da mesa do congresso representa então? Está limpa e do jeito que deve estar, mas e o que fazem em cima dela? Isto deveria ser visto como um desrespeito.
Bom, deixa pra lá... Mudando de assunto, ainda tem mais, a lei exige que não cantem o hino pessoas fora de ritmo:
Art. 24. A execução do Hino Nacional obedecerá às seguintes prescrições:
III - Far-se-á o canto sempre em uníssono;
Fica a dica pra quem não consegue acompanhar a música. Melhor ficar quieto do que ser julgado por desrespeito à pátria.
Ah, esqueci, se sua bandeira estiver em mau estado de conservação podem ser tomadas de ti para queimá-la:
Art. 32. As Bandeiras em mau estado de conservação devem ser entregues a qualquer Unidade Militar, para que sejam incineradas no Dia da Bandeira, segundo o cerimonial peculiar.
Será que não entregar uma bandeira em mau estado de conservação também terá de pagar multa, o “infrator”?

Enfim... Voltando ao assunto: O Hino Nacional é interessante ele foi escrito inicialmente em 1822 por Francisco Manuel da Silva para comemorar a abdicação de D. Pedro I ao trono, depois a letra foi alterada exaltando D. Pedro II. Depois por divergências militares e políticas e após a proclamação da república fez-se um concurso para escolher o hino, inicialmente o hino de Leopoldo Miguez que havia ganhado foi rejeitado pelo povo e por Marechal Deodoro da Fonseca e acabou sendo oficializada como o hino da proclamação da república e como hino nacional, foi aberto novo concurso em 1906 e em 1909 escolhido a letra de Joaquim Osório Duque Estrada como aquela que melhor se adaptou a música de Francisco Manuel da Silva, a mesma música composta em 1822, originalmente a “Marcha Triunfal” comemorando a independência do país. Em 1916 houve uma alteração, ainda, a letra. Em 1822 doi declarado oficialmente em 1922 e “comprado” os direitos pelo Poder Executivo em 1922. Em 1936 o Deputado Lourenço Baeta Neves declarou obrigatório o canto do Hino Nacional nas escolas.
Bom, historicamente falando o hino representa primeiro a liberdade do Brasil de Portugal, a exaltação de nosso imperador Dom Pedro II e depois um hino de exaltação à pátria, afinal é um hino nacional e não um hino ao imperador. Figuras importantes do hino:
Joaquim Osório Duque Estrada era bacharel em letras e filho do tenente-coronel, Luiz de Azevedo Coutino Duque Estrada. Publicou livros de poesia, didáticos, peças teatrais, traduções, libretos de operas e conferências, foi crítico literário em três jornais importantes da época (Correio da Manhça, Imparcial e Jornal do Brasil). Republicano, dedicou-se à diplomacia, foi nomeado 2º Secretário de Alegação (no Paraguai), foi regente interino da cadeira de História Geradl e do Brasil no Colégio Pedro II. Ocupou a cadeira 17 da ABL.
Francisco Manuel da Silva foi compositor, regente, violoncelista e professor. Compôs em 14 de abril de 1831 o “7 de Abril (hino sobre a abdicação de D Pedro I), que se trasnfornou no primeiro Hino Nacional Brasileiro. Fundou a Sociedade Beneficência Musical, em 1841 foi elteito Mestre Geral da Campela Imperail e em 1842 Mestre Compositor da Capela Imperial. Foi condecorado com a “Ordem Rosa”, como Oficial, em 1857.
Leopoldo Américo Miguez foi compositor, violinista e maestro, wagneriano e republicano.
Marechal Deodoro da Fonseca foi militar e político republicano brasileiro, eleito o primeiro presidente do Brasil de 1889 a 1891, durante o governo provisório.
Dom Pedro I foi o primeiro imperador do Brasil de 1822 a 1831, quando abdicou para seu filho Dom Pedro II. Dom Pedro I foi aquele que disse em 9 de janeiro de 1822 que "Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!", declarando também que nenhuma ordem das cortes portuguesas seria cumprida no Brasil sem a sua autorização, entrando diretamente em conflito com Portugal o que culminaria na Independência do Brasil à 7 de setembro de 1822, no chamado “Grito do Ipiranga", naquele riozinho ali pra baixo do museu do Ipiranga.
Dom Pedro II filho de Dom Pedro I, 2º Imperador do Brasil de 1831 a 1889, quando foi deposto pelo golpe militar liderado pelo Marechal Deodoro da FOnseca (esse ai em cima) e proclamada a República do Brasil. Dom Pedro II foi um grande incentivador da educação e da cultura, contra a escravidão, sendo considerado "um príncipe filósofo por Lamartine, um neto de Marco Aurélio por Victor Hugo e um homem de ciência por Louis Pasteur e ganhando a admiração de pensadores como Charles Darwin, Richard Wagner, Henry Wadsworth Longfellow e Friedrich Nietzsche".
Bom, o hino nacional é um hino de idolatração à pátria, algo que revele as qualidades do país e de seu povo, deve procovar o patriotismo. Reflete a tradição, a história, os costumes, características do povo etc. Sendo assim é difícil, penso, representar todo o Brasil, no nosso caso, claro!, pois o Brasil é muito grande, cada estado ou região tem sua história, suas características e a história do Brasil após a descoberta foi escrita nas cidades litoraneas, só depois foi adentrando o país e grande parte da história aconteceu em São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais. São muitos povos, muitas tradições, muitos costumes, características diferentes, não sei se, de fato, nosso hino é um hino nacional. Apesar que não poderíamos ter mais de um hino, senão seriam hinos regionais, o que seria um contradição, em termos. Na minha opinião não temos um Brasil, mas muitos “brasís” dentro de um só.
Do Hino Nacional discordo de alguns trechos, como:
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Da forma que foi composta diz que a independência, a liberdade, foi conquistada pelo povo com coragem e força, quando na verdade, foi proclamada pelos líderes políticos, pela elite, por questões políticas, pelas pressões sofridas de Portugal. Outra:
Gigante pela própria natureza
A grandeza de um país não lhe é dada por natureza e sim por convenção, pois são os homens que dividem as terras e a delimitam. Ainda outra:
Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Será mesmo que o brasileiro morreria pela patria? Será que levantaria a clave, ou pelo menos a voz contra a injustiça? Se sim, onde eles estão com tanta coisa errada acontecendo no país e todos estão calados? Se não, esta parte do hino é falsa, mentirosa. Fala de alguém ou que morreu ou que está por vir, pois hoje, não vejo este filho que não foge a luta, nem que morreria pelo país.

De todo modo segue o Hino Nacional:

Hino Nacional Brasileiro
I
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
II
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
• Trecho sublinhado extraído por Duque-Estrada do poema Canção do Exílio de Gonçalves Dias. O poema foi escrito na época em que GD foi para Portugal estudar Direito, em 1843. Na época estava em voga o Romantismo, em sua primeira fase. No Brasil marcada pelo indianismo e pelo nacionalismo. GD junto com Gonçalves de Magalhães foram os principais poetas e as características principais do movimento são nacionalismo, exaltação do país e da natureza, o índio é o herói nacional e estão há duas décadas da independência, o que (in)diretamente é causa das outras características. Poderíamos ainda traíamos ainda ler alguns outros poemas que tratam do mesmo assunto de como alguns poemas de Drummond, Vinicius de Morais, , Casimiro de Abreu dentre outros, porém não vou me estender mais... Segue o poema Canção do Exílio para finalizarmos:

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."